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DIVULGAÇÃO
Inserida em: 27/08/2009
Muita
gente no Brasil torce o nariz para os cursos de graduação a distância – mas
eles podem oferecer ensino de alto nível e atrair para a Universidade quem hoje
está de fora.
Os cursos de graduação a distância, aqueles que o aluno faz sem praticamente ir
à universidade, estão no centro de uma polêmica. Enquanto proliferam no Brasil
– de 40 000 matrículas, em 2002, já contam com 760 000 –, eles suscitam
críticas variadas. Na última paralisação da USP, em junho, essa modalidade de
ensino, que já se decidiu implantar ali, foi demonizada pelos grevistas. Eles
diziam se tratar de uma graduação de "segunda categoria" que acabaria
por manchar a reputação da universidade. Essa mesma ideia justificou as
sucessivas negativas dadas por governos ao pleito das faculdades para
regulamentar a graduação a distância no país. Na década de 80, ela chegou a ser
referida em rodas de Ph.Ds. pelo pejorativo apelido de "supletivo de
smoking". Parte da desconfiança em relação a tais cursos vem do próprio
mercado. "É necessário mais tempo para que as grandes empresas entendam
que esse diploma vale tanto quanto o outro", avalia Sofia Esteves, que faz
recrutamento de estagiários e trainees. A discussão passa ao largo dos fatos.
No mundo inteiro, os cursos universitários a distância funcionam muito bem. No
Brasil, os primeiros resultados sobre eles indicam o mesmo. "Existe no
país uma sacralização da sala de aula, o que remete às primeiras escolas do
século XIX", diz Maria Inês Fini, doutora em educação. "É um apego a
uma concepção de ensino que não tem mais lugar, especialmente no mundo
pós-internet."
O ensino a distância surgiu no Brasil no início do século passado e, durante
décadas, foi sinônimo de curso por correspondência. Os alunos liam as apostilas
em casa. Enviavam e recebiam suas dúvidas e seus exames pelo correio. Certo
avanço se viu nos anos 70, quando à velha fórmula se somaram aulas transmitidas
na televisão – caso do tradicional Telecurso. Tudo isso, no entanto, guarda apenas
uma remota semelhança com o fenômeno atual. Primeiro, porque, até 1996, nem
sequer havia uma legislação no país que reconhecesse cursos a distância de
nível superior. Outra mudança decisiva diz respeito à consolidação da internet,
com a perspectiva de tornar tais aulas mais interativas e atraentes. "A
participação dos alunos no ambiente virtual é muito maior do que na sala de
aula", observa João Vianney, diretor do ensino on-line da Unisul,
universidade particular de Santa Catarina e uma das pioneiras na modalidade.
Além dos populares fóruns e chats, alguns dos recursos da internet usados
nessas aulas ampliam, e muito, as possibilidades de um estudante universitário.
Por exemplo, permitindo que os alunos de administração da Unisul simulem as
atividades da bolsa de valores ou que os da Fundação Getulio Vargas executem
extensos trabalhos em rede. É o que faz o engenheiro Alexandre Bittar, 38 anos,
que, tarde da noite, costuma estar em casa às voltas com uma atividade pouco
usual: ele ora tira dúvidas com um professor, ora debate com os colegas de
classe – tudo na internet. "Foi o que tornou viável estudar um assunto que
já me fazia falta no trabalho", diz Alexandre, matriculado na graduação em
processos gerenciais da FGV. A lei exige das faculdades que contem com pelo
menos um tutor por curso: alguém de plantão encarregado de dar a supervisão
necessária. Na FGV, eles chegam até a entrar na rede para comentar os
exercícios feitos e monitorar o número de vezes que cada aluno acessou o site.
Os cursos mencionados acima representam o suprassumo do ensino on-line no
Brasil. É claro que também existem arapucas. O MEC compôs uma lista negra com 2
000 unidades de onze universidades que terão de se adequar aos padrões do bom
ensino on-line. Se não melhorarem, terão de fechar. É o que se vê numa das
filiais da Universidade Metropolitana de Santos, em Taboão da Serra, em São
Paulo. Lá, a secretaria informa que, para falar com um tutor, é preciso marcar
hora uma semana antes. Apesar de oferecer cursos de biologia e física, não há
na sobreloja em que a faculdade está instalada nenhum sinal de laboratório,
tampouco de biblioteca – equipamentos básicos. "Fico limitada ao que
colocam na internet", queixa-se a aluna de geo-grafia Maria Alice Oliveira.
Na média,
contudo, a graduação on-line já alcança notas ligeiramente melhores do que as
dos cursos tradicionais, de acordo com o MEC. É verdade que a média – 47,5 numa
escala de zero a 100 – não é exatamente alta, mas sua vantagem talvez seja um
indicativo de algo para que os especialistas vêm chamando atenção. "Quando
há mais autonomia, o estudo tende a ser mais focado, intenso e eficiente",
diz João Vianney, que pesquisou o assunto. Além disso, o ensino a distância
requer um plano de aulas muito bem estruturado, o que falta à maioria das
faculdades. O melhor exemplo de como o modelo funciona, se bem aplicado, vem da
Open University, que surgiu na Inglaterra em 1969 e só oferece cursos a
distância. Nos rankings, já ombreia com as melhores universidades do país, como
Oxford e Cambridge. O que falta a 90% das instituições brasileiras é aprender a
explorar adequadamente as potencialidades da internet. Ela é acessada, na
maioria das vezes, apenas para a leitura de textos, enquanto a interação entre
professores e alunos se dá, basicamente, nas ocasiões em que os estudantes vão
à faculdade, em média uma vez por semana. No lugar do contato em tempo real,
proporcionado pela rede, nesses casos eles assistem, in loco, às chamadas
teleaulas, gravadas e transmitidas na televisão. Perguntas são feitas depois,
em geral por e-mail.
A discussão sobre usar ou não a internet no ensino tornou-se ultrapassada, uma
vez que ela já se provou uma ferramenta útil em todos os níveis de ensino. Em
países como Coreia do Sul e Japão, por exemplo, alunos de diferentes escolas
fazem trabalhos colaborativos na rede – sistema que reproduz, em menor escala,
o que se passa entre os grandes centros de pesquisa do mundo. O efeito positivo
se vê nas notas. Existe um consenso de que, quanto mais velho o aluno, melhores
suas condições de chegar a respostas e avançar por si mesmo, daí os bons
resultados da graduação a distância. Ainda que nem sempre ofereçam toda a grade
de matérias on-line – especialmente em cursos que requerem mais experiências
práticas, como medicina ou biologia –, algumas das melhores universidades do
mundo já começam a dar aos alunos a opção de fazer parte das disciplinas a
distância.
A tendência é que isso se repita no Brasil. Em cinco anos, a previsão é que
esses estudantes representem um terço do total, proporção semelhante à dos
países mais ricos da OCDE. Parece realista. Hoje, 80% dos jovens brasileiros
ainda estão fora da universidade. "Com mensalidades até 50% mais baixas e
flexibilidade de horário, esses cursos serão o único caminho para muita gente
voltar para a sala de aula", conclui o especialista Ryon Braga. É por meio
do ensino a distância que as universidades públicas pretendem ampliar o número
de vagas e os grandes grupos privados planejam expandir seus negócios. Para os
que estão esparramados pelo país inteiro, compensa. Não apenas porque fazem uso
de prédios em que já estão instalados como por atraírem alunos sem investir
tanto em marketing, uma vez que contam com um nome consolidado. Os que
conseguirem oferecer ensino de alto nível estarão dando chance para que jovens
hoje fora da universidade tenham, enfim, um bom diploma.